- Vou mostrar para o senhor as fotos com opções de cortes para o seu tipo de cabelo.
- Obrigado, não precisa, pois...
E abre o álbum Kodak "Seus Melhores Momentos" anos 90, amarelado pelo tempo, guardado naquela gavetinha do meio com chave, debaixo de pentes, fios de cabelo variados, papeizinhos e notas de dois reais religiosamente amassadas.
- Aqui, olha, tem este corte assim, este aqui também, e outro...
Realmente o barbeiro estava interessado em mostrar seu trabalho. Concentradíssimo.
- Veja - interrompo - meu cabelo não tem muito segredo. É máquina "cinco" dos lados e tesoura em cima. E nem precisa lavar.
Ele então desvia o olhar por alguns instantes, agora para o espelho, naquela conversa estranha em que você olha pra frente e escuta pelos lados.
- Muito novo e muito cabelo grisalho, mas o loiro esconde.
- Perdi as contas de quantos já me falaram isso. Agora eu já sei! Vai me sugerir alguma "tintura" natural, luzes invertidas ou sei lá o quê mais.
- Não, não. Na verdade...
E continua a esquadrinhar minha cabeça, pensativo, como que elaborando uma estratégia de guerra ou uma abordagem cirúrgica.
- Hum?
- ...Na verdade o senhor tem razão, seu cabelo não dá pra fazer coisa muito diferente. Cortar curto! E é por causa da sua... da sua...
- Cabeça.
- Isso! Exato. A sua cabeça! A sua cabeça é...
- Grande...!
- Não exatamente...
- Quadrada? Desproporcional?
- Não, senhor... Imagine! Eu diria que ela é... AVANTAJADA.
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