São quase 1h30 da madrugada e estamos terminando a sexta (isto mesmo, sexta) cirurgia do plantão até o momento.
Foram todos procedimentos de urgência, médio a grande porte, que nossa equipe conseguiu realizar com bom resultado para os pacientes.
Exausto, fico pensando se tudo isso vale a pena, a que custo e com qual retorno.
O retorno é imaterial, certamente. Não espero ficar rico ganhando R$ 40 a hora, brutos.
Por outro lado, ganho quando vejo toda a equipe de Enfermagem agilizando os procedimentos no centro cirúrgico.
Ganho também quando a equipe de Anestesia (Juarez Baptista) abraça nossas "encrencas" e confia em nós e nos nossos residentes.
Ganho demais (não sabem o quanto!) constatando a evolução do futuro cirurgião, residente (R2) Robson Laranja, demonstrando calma, tirocínio, tática e técnica cirúrgica irretocáveis.
Ganho quando descanso com a cabeça tranquila, certo de que nós, cirurgiões, fizemos nosso melhor (Thiago Hassegawa e Saulo Garcez).
Mas ganho muito, e sobretudo, com a melhora da saúde de quem a gente cuidou, sabendo que nossa mão de alguma forma fez parte disso.
E isto tudo não se paga. Não se vende. Não se transfere.
Simplesmente fica.
Pra sempre.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
sábado, 20 de setembro de 2014
Trégua
Hoje o bem-te-vi daqui, meu vizinho, se estatelou no vidro da sacada.
Fechamos recentemente nossa varanda, naquele movimento tipicamente paulistano de erguer muros, separar, segregar.
E ele reclamou, gritou,empoleirado na mureta defronte ao vidro impenetrável. Eu, da minha poltrona, fiquei olhando o coitado piar, e ele não piava em "bem-te-vi". Brigava era comigo.
Levantei, abri o vidro e coloquei ali uma laranja partida ao meio, como forma de desculpa e agradecimento.
Bandeira branca.
Mas o compreensível rancor dele não cedeu.
Ficou a laranja. Intocada. E a sacada, semi-aberta.
Esperando as pazes.
Fechamos recentemente nossa varanda, naquele movimento tipicamente paulistano de erguer muros, separar, segregar.
E ele reclamou, gritou,empoleirado na mureta defronte ao vidro impenetrável. Eu, da minha poltrona, fiquei olhando o coitado piar, e ele não piava em "bem-te-vi". Brigava era comigo.
Levantei, abri o vidro e coloquei ali uma laranja partida ao meio, como forma de desculpa e agradecimento.
Bandeira branca.
Mas o compreensível rancor dele não cedeu.
Ficou a laranja. Intocada. E a sacada, semi-aberta.
Esperando as pazes.
domingo, 14 de setembro de 2014
Os piores médicos para os médicos
Os piores médicos para os médicos:
1) O médico de "palanque": diz que resolve, e até parece resolver, mas que no frigir dos ovos foge do problema como o diabo da cruz;
2) O médico "bonzinho": aquele que finge bom mocismo, adorado por muitos, e no fundo esconde uma profunda incompetência técnica;
3) O médico de "lousa": no quadro negro parece explicar e fazer tudo perfeitamente. Mas a prática ninguém viu.
4) O médico "caroneiro": embarca no bom resultado de outro colega, e atribui sempre tal resultado à sua presença do banco do carona.
5) O médico "fantasma": faz o trabalho de alguém mais famoso, sem aparecer. Espera um dia ocupar o lugar do seu ídolo, caso ele se aposente ou morra.
6) O médico "eterno júnior": Sofre de baixa auto-estima. Não consegue tomar uma só conduta sozinho, nem mesmo prescrever uma dipirona. Tem uma lista infindável de telefones de colegas mais experientes para poder ajudá-lo inclusive a matar uma barata.
7) O médico "do dia seguinte": tipinho muito prevalente no meio médico. É conhecido pela sigla em inglês DAD (day after doctor): adora atirar pedra na conduta do colega do dia anterior, mesmo que aquele tenha se ferrado sozinho sem nenhum recurso disponível.
8) O médico "estrangeiro": não se adapta a nenhum trabalho, a nenhum serviço. Sente-se um estranho, falando uma língua diferente e superior aos demais, mesmo ganhando em reais e trabalhando em serviço público.
9) O médico "baseado em evidências": tem todos os últimos artigos científicos na ponta da língua, mas não sabe como aplicá-los na realidade brasileira.
10) O médico "capitalista": capitaliza para si o bom resultado da equipe.
11) O médico "socialista": é a outra face da mesma moeda do número 10. Adora socializar seu mau resultado com a equipe.
12) O médico "virtual": adora dar uma opinião grave, contundente, certeira e bem embasada, mas apenas pela internet. Na vida real foge dos problemas reais.
13) O médico "sabe-tudo": não importa a área, a especialidade, a situação. Seu conhecimento transcende os muros da Medicina. De compra de ações na bolsa à reforma de banheiro, passando por escolha de vinho à depilação, ele sempre fez o melhor, o mais fácil, o mais barato, o "mais certo", o que ninguém poderia ter feito.
14) O médico "cara-de-pau": muito conhecido nos meios acadêmicos, nos congressos e reuniões científicas. Ele mente descaradamente. Suas cirurgias nunca complicam, seus resultados são melhores do que qualquer centro de excelência mundial. E, pior, ele acredita nisso.
15) O médico "baba-ovo": este tipo rasteja por entre os empregos sempre procurando alguma teta ou chefe para se apaniguar. Adora um cargo de nome pomposo e inútil, em que se sinta importante e ganhe um troco qualquer.
16) O médico "inconformado": não se conforma em ser de classe média. Ele quer mais. E se acha merecedor de muito mais. Tem carro importado, viaja ao exterior três vezes por ano, tem relógios caros e roupas de grife. Mas pra poder pagar tudo isso vive dando plantão em hospital de periferia.
17) O médico "camaleão": é extremamente educado e gentil com pacientes particulares, cumprindo horários e tendo sempre uma grande disponibilidade de tempo. Exatamente o contrário do que faz no SUS.
18) O médico "senhor de engenho": sua especialidade é "empregar" outros médicos, geralmente mais jovens e inexperientes, relegando-os a uma doce "senzala", com a promessa de que estes colegas um dia irão fazer parte de sua "casa grande".
19) O médico "celebridade" (por Leonardo Salvador Gaspar): posta fotos de artistas atendidos por ele. Vive querendo aparecer na Caras. Adora um camarote. Adora qualquer coisa que tenha "VIP" no nome. Seu grande sonho é ter o seu próprio quadro num programa matinal de TV, onde aparece sorridente de jaleco, falando sobre tudo e sobre nada.
20) O médico "institucionalizado": ele não é uma pessoa; ele é uma instituição de nome e logotipo bordados no seu jaleco. Não importa o que ele faça lá, às vezes só mora perto de um hospital famoso. Mas se diz parte daquilo o tempo todo e usa esse mesmo jaleco até ficar encardido.
21) O médico "plantonista": muito comum no serviço público, vive com vários empregos e esquemas de plantão. Atender um paciente é "tocar uma ficha". Programa seus gastos conforme o número de plantões que dá. Seu carro é uma extensão da sua casa, cheio de mudas de roupas e crachás de estacionamento de diferentes hospitais.
22) O médico "faz favor": sempre lembrado por fazer encaixes de última hora, dar atestados, repetir receitas e pedir exames para parentes distantes. Ninguém se dá conta que é médico e ele nem se importa com isso. Geralmente bem quisto.
23) O médico "estrela": o paciente deve agradecer todos os dias de sua vida por ter sido atendido um dia por ele, mesmo que pagando caro. Mesmo que rapidamente. Mesmo que entre duas ligações de celular importantes. Mesmo sem ter seu problema resolvido.
PS: A combinação, no mesmo médico, de dois ou mais tipos acima, pode ser extremamente aborrecida (e frequente).
1) O médico de "palanque": diz que resolve, e até parece resolver, mas que no frigir dos ovos foge do problema como o diabo da cruz;
2) O médico "bonzinho": aquele que finge bom mocismo, adorado por muitos, e no fundo esconde uma profunda incompetência técnica;
3) O médico de "lousa": no quadro negro parece explicar e fazer tudo perfeitamente. Mas a prática ninguém viu.
4) O médico "caroneiro": embarca no bom resultado de outro colega, e atribui sempre tal resultado à sua presença do banco do carona.
5) O médico "fantasma": faz o trabalho de alguém mais famoso, sem aparecer. Espera um dia ocupar o lugar do seu ídolo, caso ele se aposente ou morra.
6) O médico "eterno júnior": Sofre de baixa auto-estima. Não consegue tomar uma só conduta sozinho, nem mesmo prescrever uma dipirona. Tem uma lista infindável de telefones de colegas mais experientes para poder ajudá-lo inclusive a matar uma barata.
7) O médico "do dia seguinte": tipinho muito prevalente no meio médico. É conhecido pela sigla em inglês DAD (day after doctor): adora atirar pedra na conduta do colega do dia anterior, mesmo que aquele tenha se ferrado sozinho sem nenhum recurso disponível.
8) O médico "estrangeiro": não se adapta a nenhum trabalho, a nenhum serviço. Sente-se um estranho, falando uma língua diferente e superior aos demais, mesmo ganhando em reais e trabalhando em serviço público.
9) O médico "baseado em evidências": tem todos os últimos artigos científicos na ponta da língua, mas não sabe como aplicá-los na realidade brasileira.
10) O médico "capitalista": capitaliza para si o bom resultado da equipe.
11) O médico "socialista": é a outra face da mesma moeda do número 10. Adora socializar seu mau resultado com a equipe.
12) O médico "virtual": adora dar uma opinião grave, contundente, certeira e bem embasada, mas apenas pela internet. Na vida real foge dos problemas reais.
13) O médico "sabe-tudo": não importa a área, a especialidade, a situação. Seu conhecimento transcende os muros da Medicina. De compra de ações na bolsa à reforma de banheiro, passando por escolha de vinho à depilação, ele sempre fez o melhor, o mais fácil, o mais barato, o "mais certo", o que ninguém poderia ter feito.
14) O médico "cara-de-pau": muito conhecido nos meios acadêmicos, nos congressos e reuniões científicas. Ele mente descaradamente. Suas cirurgias nunca complicam, seus resultados são melhores do que qualquer centro de excelência mundial. E, pior, ele acredita nisso.
15) O médico "baba-ovo": este tipo rasteja por entre os empregos sempre procurando alguma teta ou chefe para se apaniguar. Adora um cargo de nome pomposo e inútil, em que se sinta importante e ganhe um troco qualquer.
16) O médico "inconformado": não se conforma em ser de classe média. Ele quer mais. E se acha merecedor de muito mais. Tem carro importado, viaja ao exterior três vezes por ano, tem relógios caros e roupas de grife. Mas pra poder pagar tudo isso vive dando plantão em hospital de periferia.
17) O médico "camaleão": é extremamente educado e gentil com pacientes particulares, cumprindo horários e tendo sempre uma grande disponibilidade de tempo. Exatamente o contrário do que faz no SUS.
18) O médico "senhor de engenho": sua especialidade é "empregar" outros médicos, geralmente mais jovens e inexperientes, relegando-os a uma doce "senzala", com a promessa de que estes colegas um dia irão fazer parte de sua "casa grande".
19) O médico "celebridade" (por Leonardo Salvador Gaspar): posta fotos de artistas atendidos por ele. Vive querendo aparecer na Caras. Adora um camarote. Adora qualquer coisa que tenha "VIP" no nome. Seu grande sonho é ter o seu próprio quadro num programa matinal de TV, onde aparece sorridente de jaleco, falando sobre tudo e sobre nada.
20) O médico "institucionalizado": ele não é uma pessoa; ele é uma instituição de nome e logotipo bordados no seu jaleco. Não importa o que ele faça lá, às vezes só mora perto de um hospital famoso. Mas se diz parte daquilo o tempo todo e usa esse mesmo jaleco até ficar encardido.
21) O médico "plantonista": muito comum no serviço público, vive com vários empregos e esquemas de plantão. Atender um paciente é "tocar uma ficha". Programa seus gastos conforme o número de plantões que dá. Seu carro é uma extensão da sua casa, cheio de mudas de roupas e crachás de estacionamento de diferentes hospitais.
22) O médico "faz favor": sempre lembrado por fazer encaixes de última hora, dar atestados, repetir receitas e pedir exames para parentes distantes. Ninguém se dá conta que é médico e ele nem se importa com isso. Geralmente bem quisto.
23) O médico "estrela": o paciente deve agradecer todos os dias de sua vida por ter sido atendido um dia por ele, mesmo que pagando caro. Mesmo que rapidamente. Mesmo que entre duas ligações de celular importantes. Mesmo sem ter seu problema resolvido.
PS: A combinação, no mesmo médico, de dois ou mais tipos acima, pode ser extremamente aborrecida (e frequente).
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